Livro Os Quatro Compromissos, de Don Miguel Ruiz

Um dos mais aclamados livros de desevolvimento pessoal – Os 4 Compromissos de Don Miguel Ruiz – é um Guia para aqueles que estão em busca de uma vida mais plena e feliz. Nesse artigo, a psicóloga, Aline Dutra resume seus principais aprendizados com a leitura:

Os quatro compromissos em uma perspectiva pessoal

Inicialmente o livro de Don Miguel Ruiz revela que os quatro compromissos advém de uma lenda tolteca e que a partir deles a vida pode ficar mais gratificante e feliz. 

  • Tolteca foi um povo pré-colombiano que viveu na região central do México entre os séculos X e XII

Na lenda um homem tolteca, dormindo em uma caverna, teve um sonho revelador! Ele compreendeu a existência humana como parte da mesma matéria de todo planeta quando enxergou as estrelas como materialização da luz e o espaço escuro como fonte de energia que permite que essa luz tenha expressão. Percebeu-se igual a informação trazida pelas estrelas: como um ser de luz, tendo vida e brilhando, porque há o espaço (escuridão/sem informação contida) que possibilita essa manifestação. Assim, a mesma imensidão escura de universo que possibilita o brilho das estrelas, a manifestação solar, a projeção do luar iluminado, se repete em toda parte.

Por exemplo, quando uma atitude ignorante se coloca em nosso caminho e há oportunidade de iluminar a situação com conhecimento. Sempre o vazio abre a possibilidade de criação, de esclarecimento, no livro o autor trata as estrelas como a informação e o espaço como a energia.

O sonhador entendeu que era feito da mesma matéria que as estrelas sem que fosse essa matéria, se percebeu como o “espaço entre as estrelas”, como a expressão da informação da luz que se projeta no espaço vazio cessando com a escuridão”.

Chamou a isto de Deus e a si próprio de espelho de Deus. Na Bíblia Sagrada há uma citação em que Deus afirma: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.” Significando que a essência humana é divina.

A medicina ayurvédica que data na Índia em torno de 6.000 a.c afirma que Deus é a alta consciência, a plena clareza nas ideias, atitudes e amor. Quanto às manifestações de matéria entendem que existem cinco elementos no universo e deles tudo que existe se origina.

O primeiro deles foi o espaço que permitiu a expressão dos seguintes, tendo surgido nele o ar, que em atrito gerou fogo, que com vapor gerou água, que densificando com os demais elementos gerou terra e todo o mais são variações dessas substâncias em maior ou menor grau.

Dessa forma, o Ayurveda acredita que o espaço está em tudo e é condição primeira para qualquer manifestação. Nele o ar surgiu e por isso o fogo, que pode ser entendido como expressão da luz e também da vida. Ora, esses elementos etéreos e mais sutis são condição primeira aos elementos mais densos surgidos a posteriori, como dito, água e terra.

Para ilustrar esse raciocínio lembro que nosso corpo é carbono e água, em maior parte (há também metais, cálcio, fósforo, nitrogênio, cloro, etc), na proposição de 23% carbono e 55% água (hidrogênio e oxigênio), ou seja, 78% do corpo humano é essencialmente água e terra.

A compreensão de uma leitura semelhante da realidade em diferentes crenças reafirma em minha percepção que o caminho da verdade é este que nos aponta como iguais ainda que únicos. Do ponto de vista científico tudo é composto a partir do átomo. Ele é a unidade fundamental da matéria. Em cada átomo existe um núcleo com prótons e nêutrons, além dele há esferas que o circundam chamadas elétrons. Se toda matéria, inclusive o corpo humano quando reduzido a partículas resulta em átomo, podemos dizer que também para ciência somos todos a mesma essência.

O romancista Fernando Sabino diz “vivo em mim a humanidade inteira” enquanto o físico Erwin Schrödinger afirma “nós estamos em todos os demais seres, que também estão em nós, de modo que a vida que cada um de nós vive não é somente uma porção da existência total, mas em certo sentido é o todo”.

Retomando a introdução do livro que tratamos neste artigo, Don Miguel Ruiz afirma que a realidade que vivemos é como um espelho projetando o entendimento que cada um teve de si, sem que essa imagem seja a verdade de fato porque a verdade é uma essência plena no sentimento de amor.

Ainda no sonho que viveu o tolteca do livro, ele se viu em tudo ao redor, em cada pessoa, nos animais, nas natureza. Percebeu que em diferentes níveis tudo estava composto pela mesma essência. Ficou maravilhado e quis compartilhar com outras pessoas a descoberta, mas, ninguém o compreendia e começaram a considerá-lo “um Deus”, ele concordava porém afirmava que cada um também era. Sem ser entendido notou que ele se via em todos mas ninguém se via nele, que as pessoas viviam um sonho coletivo onde a consciência estava rebaixada. Como se um nevoeiro envolvesse o espelho e impedisse a imagem perfeita. Entendeu que vivendo em comunidade esqueceria a própria revelação que teve e passou a chamar a si mesmo de “espelho enevoado” para manter ativa a consciência.

Sonho do Planeta

Ruiz considera que sonhamos o tempo inteiro, seja dormindo ou acordados. Estende essa metáfora para todos os detalhes desde a cultura, a noção de si mesmo e tudo mais que é aprendido a partir do nascimento.

Explica que se usa a atenção, o foco para treinar o bebê sobre aquilo que existe e a repetição para fixar as informações. 

Assim cada um recebeu o nome próprio, aprendeu o certo e errado, as formas de reação foram ensinadas na experiência. Tal qual se faz na domesticação de um animal, se recompensa o bom e se pune o mau. 

Dia a dia a criança recebe atenção positiva quando corresponde e recebe castigo ou reprovação quando erra ao que se espera dela. Assim, o medo de ser punida ou rejeitada faz a criança introjetar as regras e com o tempo ser o próprio vigia de sua conduta. 

Mergulhando mais e mais no “sonho do planeta” e abandonando sua essência de luz e amor, ela vai conhecer a raiva, tristeza, ódio, medo, a partir das regras estabelecidas na sociedade como consequencia do sistema de julgamento e culpa que é gerado cada vez que uma das regras que aprendeu é descumprida. 

Existe um juiz interno que julga tudo e todos em tempo integral, sobretudo, a si próprio. Se culpa e se pune. O autor lembra que o ser humano é o único entre os primatas que sofre inúmeras vezes por um mesmo erro. Enquanto o ponto de vista da neuropsicologia aponta que há uma ação sincrônica de numerosas áreas corticais para que um conteúdo esteja ativo na consciência. Assim, ativando repetidas vezes os caminhos neurais que levam a culpa e a rememoração do erro o cérebro aprende como natural esse trajeto e o percorre com mais facilidade. Ou seja, a repetição molda a consciência. 

No livro, é afirmado que a principal função do cérebro humano é sonhar. Seja acordados ou dormindo, no primeiro se sonha com uma moldura de realidade, de maneira linear. No segundo o sonho flutua livre, sem a lógica imposta pela consciência ativa e por isso muda e cria em maior grau. Entende que o sonho coletivo que vivemos é composto pelo aprendizado de crenças sociais desde a família, os países, as religiões, culturas, escolas, governos. O sonho coletivo é ensinado à criança através do foco e da atenção. Mas a psicopatologia aponta que o século XIX com sua perspectiva higienista considerou os estados oníricos em período de vigília, ou seja, conscientes, como expressões de transtornos mentais ou loucura. Já para psicanálise, o conteúdo dos sonhos são entendidos como manifestações do inconsciente expressas durante o sono e desconsideram esse aspecto de sonho como a criação pessoal de cada indivíduo a respeito de sua realidade subjetiva. Contudo, romancistas geralmente interpretam o sonhar como variações entre formas de viver ou possibilidades de reinvenção e criatividade. 

Com a repetição dos aprendizados se cada um ingressa cada vez mais no que é chamado “sonho do planeta”, nele se aprende os valores e a julgar a partir deles.  Com o tempo de repetição se pára de questionar e se segue o que aprendeu como lei ou crença sem precisar de supervisão, a própria pessoa se vigia. Se estabelece o “juiz e a vítima”. 

Cada um julga e condena, enquanto a vítima sabe que uma vez condenada se sente culpada e envergonhada. São crenças tão enraizadas que mesmo diante de novas informações, aptos a outras concepções e novos olhares a grande tendência é retornar ao cerne dos valores e regras impostos à criança de outrora. 

Qualquer tentativa de romper o sistema de juiz e vítima causa um desconforto na região do plexo solar, é o medo que de algum modo relembra o ponto onde foi punida na infância quando quis seguir as próprias regras. “Questionar a “lei” traz insegurança, mesmo que a lei esteja errada ela oferece segurança porque é a criança obedecendo, é a boa criança”.

Por isso é preciso coragem para desafiar e questionar as próprias crenças, mesmo sem escolhê-las por fim concordamos com elas. É difícil concordar que é um sistema justo porque na prática o ser humano que se “condena” se pune milhares de vezes por seu erro, incapaz de perdoar-se e seguir em frente, continua relembrando o erro, se julgando e se vitimizando com culpa, vergonha e mais medo. O adequado seria refletir, culpar e condenar uma única vez, em seguida seguir em frente. 

No chamado sonho do planeta é comum que as pessoas sofram, vivam com medo e criem dramas emocionais. O sonho exterior contém guerras, violência, injustiças. É regido por medo. O sonho interior varia mas o mais comum repete o sofrimento do exterior, ou seja, é um pesadelo. As descrições de inferno são muito parecidas com o que se vê no exterior. Porém, o sonho vivido é uma escolha e se pode escolher viver um sonho agradável. 

Todos buscam verdade, justiça e beleza. Buscamos a verdade porque intuímos que o sistema de crença que aprendemos é ilusório. Buscamos justiça porque vemos injustiça em volta e a beleza porque mesmo a reconhecendo seguimos procurando mais e comparando sempre.

Os toltecas chamam a ilusão de “mitote”. Ela está na mente onde milhares de vozes falam simultaneamente, sem que haja entendimento. Na Índia chama de “maya” ao mitote, seria o que resulta na noção pessoal do “eu sou”. Pela dificuldade em enxergar quem realmente somos sentimos medo de viver e resistimos à vida. Aprendemos a viver satisfazendo a vontade dos outros, seguindo os pontos de vistas alheios por medo da rejeição. 

Em especial se quer agradar a quem ama e criamos a ilusão de perfeição. Mas é uma ilusão, é um modo de rejeitar a si próprio. A partir do que nos fizeram acreditar como melhor é sofrido e difícil se perdoar por ser imperfeito. Sabemos que não somos quem pretendíamos ser e nos sentimos falsos, desonestos, frustrados, fingindo ser quem não somos, desonramos a nós mesmos para tentar agradar aos outros e nem eles, nem nós ficamos satisfeitos. 

Prelúdio de um Novo Sonho

Para quebrar os compromissos assumidos com base no medo é preciso dissipar a energia gasta para manter a ilusão. Desse modo devemos corrigir os compromissos, assumindo os novos que seguem:

1º Seja impecável com sua palavra. 

Simples e poderoso. A palavra tem o poder e a força de criar. Em se tratando de poder  o bom uso da palavra vai abençoar, elevar a energia e a vibração, por outro lado, o mau uso vai intoxicar e prejudicar. A partir dessa ideia básica propõe que e firme um compromisso pessoal: “Sou impecável com minha palavra”.

Treine para cessar comentários negativos em relação aos outros, a você e sua vida. Exercite o amor próprio. Afaste-se de fofocas ou críticas pesadas aos outros ou a você. Ser impecável com a palavra é ter compromisso, ser verdadeiro e para além da verdade ser amoroso e sentir compaixão.

2º Nada é pessoal

Se alguém o critica ou ofende e você fica irritado com isso é porque aceitou como verdade. Porém nada do que os outros fazem é motivado por você. Cada pessoa vive seu próprio “sonho” ao qual chama consciência. Mesmo quando parece pessoal é apenas o ponto de vista do outro. Diz respeito a ele. É diferente do que é você e seu mundo interno, mas se você capta e absorve aí torna verdade. Daí você quer defender-se ou convencer o outro de que não ver como vê e surge o conflito. O outro tem suas visões conforme suas crenças portanto nada que pensem sobre mim é sobre mim, é deles.

Reconheça e assuma a prática da impessoalidade como forma de romper com o que o autor chama de “vício humano de sofrer”. Se alguém te trata mal ou te engana o mais adequado é afastar-se e descobrirá que a maior fidelidade que deve é a você mesmo. Em meu livro 88 Cartas reflito sobre a questão de a quem devemos fidelidade e me parece clara a resposta de que é a mim mesma. O que é diferente de dizer que eu trairia alguém porque nessa traição vem a mentira, a falha com a verdade e assim trairia a mim. Porém o cuidar de si, se preservar de relações tóxicas é a maior expressão de fidelidade consigo que posso conceber.

3º Sem conclusões

O hábito de presumir ou concluir o que se passa é problemático porque se imagina ser uma verdade e com isso muitas vezes se cria um problema “do nada”.Se você tem dúvidas, pergunte.Se você ama alguém, ama como a pessoa é, diferente de ser como você gostaria que fosse. Quem ama aceita. Se há rejeição condicionada, falta amor e é melhor se afastar para o bem de ambos. É bem simples mas profundamente verdadeiro. Sem tirar conclusões se vive com mais leveza e mais clareza de comunicação, expresse suas dúvidas.

4º Sempre dê o melhor de si

Esse compromisso permite que os outros três sejam enraizados. Faça, aja, conforme sua consciência para que o melhor seja sua expressão, nem mais, nem menos. Quando oferece mais que pode você se desgasta e adoece, quando oferece menos você se frustra e se culpa, julgando-se. Sendo verdadeiro você segue atento a suas ações e age a cada momento oferecendo o melhor, essa coerência traz equilíbrio e satisfação a sua vida. Estar pleno é viver no agora. 

“Você tem o direito de ser você. E só pode ser você quando dá o melhor de si. Você não precisa de grande sabedoria ou grandes conceitos filosóficos. Não precisa da aceitação dos outros. Você expressa sua divindade estando vivo e amando a si mesmo e aos outros.”

Don Miguel Ruiz

Se você fizer seu melhor em cada compromisso será mestre, é a prática que molda o mestre. Tudo que aprendemos na vida foi por repetição, em relação à liberdade pessoal e ao amor próprio é igual. Pratique. A ação faz diferença. Honre a si mesmo. Respeitar e cuidar de si mesmo é uma forma de oração ao ser supremo ou Deus porque o corpo é uma manifestação divina. Quando estiver pleno consigo honrar aos outros será natural. Apenas uma consequencia. 

O caminho de prática dos quatro compromissos é sinuoso. Se cair, levante e siga praticando. Seja amoroso com você e seus erros. Comece outra vez. Comece hoje, viva um dia de cada vez. 

O caminho Tolteca para liberdade

Somos livres? Cada um consegue viver sendo livre, sendo o que é? Você consegue viver no momento presente? O que atrapalha é o sistema de crenças que tolhe sua liberdade e com e com ela surgem emoções duras como raiva e tristeza e a mente foi programada com muito “lixo”, atrapalhando a felicidade. A corrente de crenças transmitida pelos pais é normal porque ensinam aos filhos aquilo que ensinaram a eles e assim por diante.

Para romper este ciclo de crenças é preciso, sair do papel de juiz (que critica, aponta, condena, julga) e também sair do papel de vítima (que sofre, é julgada, rejeitada, condenada). Quando desempenha um desses papéis significa que seu “eu” ainda precisa crescer, há sua criança querendo atenção. Quando se distrai com lazer ou esportes, hobbies ou diversão a criança sente prazer e fica feliz mas diante da responsabilidade nos tornamos juízes quando pensamos “eu tenho que parar o lazer e trabalhar mais ou estudar mais e em seguida aponta para si defeitos e consequências do futuro e deixa de ser feliz no momento presente”. A criança quer aprovação, quando você faz coisas para agradar aos outros, para ser aceito por eles, ao invés de olhar para si mesmo e meditar, refletir sobre quem é e o que quer.  Assim, o ser humano foi domesticado, sendo consumido entre o papel de juiz e vítima, sem viver liberdade, sem viver a consciência plena.

A consciência é o início para reconhecer os defeitos e venenos emocionais. A partir dela pode se recriar, usar sua criatividade e viver seu sonho pessoal. Sua vida é a manifestação de seu sonho. Assim vivem os toltecas. Ser tolteca é viver com o domínio da consciência, domínio da transformação e domínio da intenção que é o domínio do amor, é viver o amor incondicional.

Arte da transformação

O sonho que você vive é o mesmo do exterior. O autor chama de “sonho de 1ª atenção”, nesse sonho acreditou no que foi vivido. Agora com consciência pode olhar para si e perceber-se usando sua atenção. Perceba seu “nevoeiro” e no que sonha o tempo todo. Note que compromisso faz você sofrer e poderá mudá-lo. Procure por crenças limitantes que envolvem medo, raiva, tristeza. Escreva. Inicie a Arte da transformação adotando crenças alternativas que são quatro compromissos.

A disciplina do guerreiro

Controle seu próprio comportamento. A forma como você vê o mundo depende das emoções que experimenta. O sofrimento é uma escolha. A inteligência emocional é prejudicada pelo veneno guardado na mente de ira, ódio, inveja, porque se aprende assim.  Agora sem julgar a mente pode perdoar qualquer mal e seguir porque o amor próprio exige que a vida siga leve e livre sem levar o peso de emoções negativas e disfuncionais. O esquecimento é a forma de cura. E termina com o papel de vítima. A verdade cessa com o sistema de negação e devolve o equilíbrio das emoções que regem o comportamento.

Iniciação dos mortos

Tornar-se consciente da morte é a melhor forma de viver, porque a morte é a confirmação do valor e do momento presente. Só se mata no presente aos sentimentos e emoções negativas, a eles se combate com disciplina do perdão e dos quatro elementos.

Novo Sonho: céu na Terra

O que você vive ou acredita sobre o que vice cria seu sonho. Sonhe com o céu.

Livro 88 Cartas, de Aline Dutra [COMPRE JÁ]

Fidelidade, traição: camuflar e sufocar os desejos pessoais, os instintos, os tesões são ou não formas de traição consigo? Vale ser fiel a um namorado e trair a si mesma? Qual é o preço da liberdade da mulher?

Bibliografia 

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